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Mesmo sendo o transplante mais realizado no país, mais de 32 mil brasileiros aguardam na fila por um transplante de córnea, segundo dados do Ministério da Saúde. A fila para transplante de córnea quase triplicou nos últimos dez anos no país, refletindo tanto a maior necessidade de procedimentos quanto a escassez de córneas disponíveis nos bancos de olhos. “A principal causa de transplante de córnea no Brasil é o ceratocone, doença que acomete pacientes jovens. Infelizmente muitos desses pacientes já chegam em estágio avançado da doença quando não há alternativa além do transplante. A demora não só significa a privação visual, mas também impacto na vida escolar, profissional e emocional dessas pessoas”, afirma a oftalmologista Dra. Cláudia Morgado, especialista em córnea e cirurgia refrativa.
O transplante de córnea é indicado em casos de lesão, opacidade ou degeneração que impedem a recuperação da visão por tratamentos convencionais. Entre as principais causas estão o ceratocone, cicatrizes e distrofias corneanas. Embora seja um procedimento de sucesso consolidado no Brasil, depende diretamente da conscientização sobre a importância da doação. “Uma das principais vantagens da doação de córnea é que, ao contrário de outros órgãos, não há necessidade de compatibilidade sanguínea ou de tipo de tecido. Dessa forma, praticamente qualquer pessoa pode ser doadora, contribuindo para transformar a vida de quem aguarda por um transplante” relata Rodrigo Borges, especialista em córnea clínica e cirúrgica.
Além da fila por transplantes, outros problemas preocupam especialistas. A miopia, por exemplo, já atinge cerca de 59 milhões de brasileiros e tende a crescer de forma acentuada nas próximas décadas, segundo dados do Conselho Brasileiro de Oftalmologia. “O uso excessivo de telas, a falta de tempo ao ar livre e a ausência de acompanhamento regular contribuem para que os casos aumentem, especialmente entre crianças. E a miopia em graus mais altos pode evoluir para complicações graves, como descolamento de retina”, explica Dra. Morgado.
Saúde do Idoso: Catarata, glaucoma, degeneração macular e importância do acompanhamento oftalmológico
O envelhecimento populacional também traz novos desafios. Estimativas apontam que 75% dos idosos terão algum problema ocular, como catarata, glaucoma ou degeneração macular, de acordo com a Organização Mundial da Saúde. “A saúde ocular na terceira idade precisa ser acompanhada de perto. Muitas vezes os sintomas só aparecem em estágios avançados, e a detecção precoce pode preservar a visão e a autonomia dos pacientes”, destaca a médica Dra. Kátia Mello, especialista em oftalmologia geriátrica.
Outra preocupação é a retinopatia diabética, que já afeta até 39% dos diabéticos brasileiros, segundo dados reunidos pela Sociedade Brasileira de Diabetes. A condição pode levar à cegueira se não diagnosticada a tempo. “O paciente com diabetes deve entender que a avaliação ocular periódica é parte essencial do tratamento. Em fases iniciais, o controle da glicemia pode evitar complicações irreversíveis”, alerta Dra. Fábia Crespo, especialista em glaucoma e protocolos de atendimento.
O cenário mostra que o Brasil avança em número de transplantes e em tratamentos disponíveis, mas ainda enfrenta grandes desafios de conscientização, prevenção e acesso. A doação de córneas continua sendo um gesto capaz de devolver a visão e transformar vidas, mas depende de informação e mobilização da sociedade.