
Foto: Freepik
Mais de 36 milhões de brasileiras entre 25 e 64 anos não realizaram, pelo menos, uma coleta de exame citopatológico do colo de útero, conhecido como papanicolau, no intervalo de três anos. O dado faz parte de um estudo realizado pela organização não-governamental ImpulsoGov, com base nos dados do Sistema de Informação em Saúde para Atenção Básica (Sisab) do Ministério da Saúde.
Apesar dos números do Programa Nacional de Saúde apontarem que 82% das mulheres cuidam mais da saúde do que os homens (69%), a rotina sobrecarregada entre trabalho e família dificulta a adoção de hábitos preventivos regulares. Contexto que ressalta ainda mais a importância dos exames preventivos na área de saúde feminina e ginecologia.
Especialistas reforçam que o acompanhamento preventivo vai muito além da realização do papanicolau e da mamografia. Outros exames se mostram fundamentais para garantir diagnósticos precoces e o bem-estar das mulheres em diferentes fases da vida.
Exames preventivos aumentam chances de cura contra câncer
O papanicolau permanece como principal ferramenta para identificar lesões precursoras do câncer de colo de útero. Destinado a mulheres entre 25 e 64 anos sexualmente ativas, a periodicidade inicial é anual, podendo passar para trienal após dois resultados consecutivos negativos.
Para o câncer de mama, a mamografia constitui peça central no diagnóstico precoce. A radiologista especialista em exames mamários, Letícia Gonçalves, destaca a versatilidade do exame. Em entrevista à imprensa, ela esclarece que além de rastrear o câncer de mama, a mamografia ajuda a visualizar cistos, abscessos e fibroadenoma. A realização do exame é recomendada aos 40 anos, podendo ser antecipada para 30 ou 35 anos em casos com histórico familiar da doença.
A ultrassonografia mamária complementa esse arsenal diagnóstico, especialmente em mulheres com mamas densas, nas quais a mamografia pode apresentar limitações.
Monitoramento hormonal previne complicações metabólicas
Alterações da tireoide impactam a qualidade de vida feminina, com o hipotireoidismo afetando principalmente mulheres após os 40 anos. Por isso, a inclusão da dosagem de TSH (Hormônio Estimulante da Tireoide) e T4 Livre (tiroxina livre) no check-up feminino também é defendida por autoridades de saúde, sobretudo, para pacientes de risco.
Esse tipo de exame permite avaliar a saúde da tireoide, glândula localizada no pescoço que regula o metabolismo do corpo. Hemograma completo, glicemia e colesterol compõem o tripé fundamental para avaliação geral da saúde feminina a partir dos 35 anos – ou antes, dependendo de fatores de risco e histórico familiar –, monitorando potenciais quadros de diabetes e doenças cardíacas.
Doenças cardíacas matam mais do que câncer
As doenças cardiovasculares lideram as causas de morte entre mulheres brasileiras, superando até mesmo o câncer, conforme dados do Ministério da Saúde. A cardiologista Fernanda Erthal recomenda o check-up cardiológico a partir dos 40 anos para mulheres sem fatores de risco específicos.
Exames da área de cardiologia esportiva podem ser incluídos quando a paciente é atleta (amadora ou profissional) ou pretende iniciar uma atividade física. O arsenal diagnóstico para avaliação cardíaca inclui, além dos exames laboratoriais básicos, o ecocardiograma, a tomografia de coronárias e o teste ergométrico, que avalia a resposta do coração sob esforço físico.
Saúde óssea e reprodutiva demanda acompanhamento
A densitometria óssea detecta osteoporose e osteopenia, sendo indicada para mulheres na menopausa ou a partir dos 50 anos, conforme o Ministério da Saúde. Fatores como baixa exposição solar, tabagismo, sedentarismo e consumo excessivo de álcool também justificam sua realização.
Para a saúde reprodutiva, a ultrassonografia pélvica ou transvaginal oferece visualização detalhada dos órgãos pélvicos, diagnosticando condições como miomas e endometriose. O exame é recomendado para mulheres sexualmente ativas ou com sintomas ginecológicos, como dor pélvica persistente, sangramento vaginal anormal, dor durante a relação sexual (dispareunia), atraso menstrual ou ausência de menstruação, como informa a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo).
Cronograma preventivo muda conforme mulher amadurece
A periodicidade dos exames varia conforme idade e histórico da paciente. Até os 30 anos, papanicolau e exame clínico das mamas devem ser feitos anualmente, com ultrassom transvaginal conforme necessidade.
Entre 30 e 50 anos, a mamografia e o monitoramento de colesterol e glicemia também são necessários. Após os 50, entra a densitometria óssea, o exame de sangue oculto nas fezes e se faz necessário o acompanhamento cardiovascular e metabólico.
O diagnóstico precoce pode salvar vidas. A gerente de saúde pública da ImpulsoGov, Juliana Ramalho, enfatiza: “É preciso apoiar estados e municípios para ampliarem a coleta do citopatológico e reduzirem o tempo até o resultado. Esse resultado tem que chegar mais rápido para essas mulheres”.