
Foto: Cadi Busatto
O Museu Oscar Niemeyer realiza em São Paulo uma exposição de obras do artista curitibano Poty Lazzarotto (1924-1998) que pertencem ao acervo do MON. A mostra “Poty, o Narrador” poderá ser vista na White Box do Rosewood São Paulo, espaço dedicado a exposições, a partir de 4 de junho. Com curadoria de Juliane Fuganti e Marc Pottier, é um recorte com 33 obras, entre pinturas e ilustrações, que fazem parte das mais de 4 mil obras do artista que integram a coleção permanente do MON.
“Poty Lazzarotto é um dos maiores nomes da arte brasileira, e sua obra carrega a identidade do Paraná em cada traço. Levar essa coleção a diferentes regiões é uma forma de democratizar o acesso à arte, fortalecer o sentimento de pertencimento e valorizar a cultura local. É nosso compromisso fazer com que o legado de Poty ultrapasse os muros dos museus e dialogue com o maior número possível de pessoas”, afirma a secretária de Estado da Cultura, Luciana Casagrande Pereira.
“Ao ter recebido a responsabilidade de guardar e preservar o precioso legado de Poty Lazzarotto, o MON se tornou um local de referência em relação a este genial artista brasileiro”, diz a diretora-presidente do MON, Juliana Vosnika. “Uma de nossas missões agora é extrapolar as fronteiras regionais, apresentar Poty em sua dimensão universal e fazer com que a sua obra alcance um público cada vez maior e mais diversificado”, afirma.
O Rosewood São Paulo tem suas bases firmemente enraizadas nos costumes, tradições e expressões artísticas do Brasil. Com mais 450 obras assinadas por 57 artistas nacionais, a propriedade é um dos principais centros de arte na cidade.
“Realizar uma exposição em um espaço que é referência à arte, à arquitetura e ao design, com uma curadoria impecável, é um reconhecimento à importância que o acervo do MON adquiriu, especialmente nos últimos anos”, comenta Juliana.
“O Rosewood São Paulo reforça seu compromisso com o legado de artistas brasileiros ao receber obras de Poty Lazzarotto, sendo o primeiro hotel a expor obras do Museu Oscar Niemeyer”, afirma o curador Marc Pottier.
Poty
Em seus desenhos e gravuras, Poty percorre desde as ruas de Curitiba até as paisagens do Xingu, onde viveu uma temporada imerso na cultura indígena. Desde a infância, o traço de Poty já anunciava a potência de sua narrativa gráfica. Em 1942, ingressou na Escola Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, onde foi iniciado no universo da gravura por Carlos Oswald. Formado em 1946, recebeu uma bolsa de estudos para a École des Beaux-Arts de Paris. Retornando ao Brasil em 1948, Poty dedicou-se não apenas à criação, mas também à formação artística: em 1950, organizou o primeiro curso de gravura do Museu de Arte de São Paulo (MASP) e ministrou cursos na Bahia, no Recife e em Curitiba.
A partir da década de 1950, sua arte expandiu-se monumentalmente para o espaço público por meio de projetos de murais. Entre suas obras mais emblemáticas destacam-se: “O Desenvolvimento Histórico do Paraná” (1953), o mural do Teatro Guaíra (1969) e o mural para o Memorial da América Latina, em São Paulo (1988).
“Narrador sensível, Poty transita com naturalidade entre o sagrado e o profano, entre a festa e o trabalho, compondo em cada linha uma crônica visual do Brasil profundo. Sua obra é, antes de tudo, um gesto de escuta – do tempo, da terra e das gentes – que se converte em traço”, afirma a curadora, Juliane Fuganti.
Acervo MON
Em 29 de março de 2022, dia do aniversário de Curitiba – e, coincidentemente, data de nascimento do artista Poty Lazzarotto – o MON recebeu a maior coleção já doada à instituição: aproximadamente 4,5 mil peças.
Tal coleção conta com mais de 3 mil desenhos e 366 gravuras, além de tapeçarias, entalhes, serigrafias e esculturas, entre outros. A doação foi feita diretamente pelo irmão do artista, João Lazzarotto.
São obras que enriquecem ainda mais o acervo do MON, que nos últimos anos quintuplicou de tamanho, consolidando o Museu como um dos mais importantes da América Latina.
Mais sobre Poty
Poty Lazzarotto (Curitiba, 1924–1998) trilhou seu caminho a partir do desenho, aprofundando-se, em seguida, na gravura, na qual se tornou um mestre, sendo o criador do primeiro curso de gravura do Museu de Arte de São Paulo (MASP). Muito de sua produção é biográfica, indo de lembranças de menino em torno de trilhos e vagões de trem a registros de tipos curitibanos e dos cenários que eles habitam.
Poty é direto e sem rodeios em seus desenhos e gravuras. Foi com essa característica espontânea que ilustrou diversas obras da literatura brasileira, como Os sertões, de Euclides da Cunha, e Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa. Não poderia, também, ter deixado de dar a vida aos curitibanos controversos retratados nos contos de outro ícone paranaense, Dalton Trevisan.
Não bastasse sua presença na literatura, Poty deixou sua marca em toda Curitiba por meio de seus monumentos ou painéis de azulejo e de concreto aparente, prática que se iniciou com o painel “Desenvolvimento histórico do Paraná”, de 1953, na Praça 19 de Dezembro. Outros exemplos dessa produção são os painéis da travessa Nestor de Castro, nos quais ele mostra, de um lado, a cena de uma Curitiba que já não existe, e, do outro, a evolução da cidade, surgida em meio ao pinheiral, habitada por imigrantes, e que se destaca no campo do urbanismo.
Doada ao Museu Oscar Niemeyer, a coleção diz respeito a toda essa produção. Nela podemos encontrar originais tantas vezes reproduzidos em livros e outras publicações sobre o artista, tomamos contato com os desenhos realizados por ele em sua expedição ao Xingu, em 1967, e adentramos a intimidade de um Poty quase desconhecido. Ademais, ainda encontramos esboços, projetos e estudos, e podemos perceber a evolução do traço, desde a sua juventude até a maturidade. Dessa forma, a coleção constitui um verdadeiro material etnográfico sobre o artista.
A coleção também é formada, é claro, por obras consumadas, desenhos, xilogravuras, litogravuras, gravuras em metal, entalhes em madeira e blocos de concreto: milhares de peças que dão um testemunho claro da polivalência do artista. Por meio de Poty, tomamos conhecimento da arte que se fez e se faz no Paraná.
Preservar não apenas o legado desse artista, mas sua memória, é, antes de tudo, um dever – tarefa assumida e adequadamente realizada pelo Museu Oscar Niemeyer.