
Foto: Cortesia Galeria Karla Osorio
A Galeria Karla Osorio tem o orgulho de apresentar Lev(e)iatã, exposição individual da artista Selva de Carvalho em São Paulo, a partir de 03 de setembro, com obras inéditas e curadoria de Ana Carolina Ralston. A prática de Selva de Carvalho como artista visual tem o bordado e o desenho como base.
Em sua pesquisa, ela explora a materialidade, a expressividade e o devir dos tecidos, linhas, papéis, palavras e corpos — visíveis e invisíveis, humanos e não humanos —, bem como as relações orgânicas, simbólicas e fantásticas entre eles.
A artista também transita pelas artes do corpo/performance. Seu nome de batismo é um guia para mergulhar em sua pesquisa, que trata principalmente das relações simbióticas e poéticas entre os elementos/corpos na natureza. Interessada nas simbologias e diálogos entre esses corpos, e nas narrativas e mitologias criadas em torno deles, Selva de Carvalho faz referências a diferentes cosmovisões em suas obras, sobretudo por meio de processos metódicos e autocentrados de bordado e desenho.
Selva de Carvalho também utiliza a dança como elemento de estudo e investigação das sensibilidades, fluxos e atravessamentos que ocorrem no corpo. A dança como rito de celebração da vida e meio de ativação e incorporação de suas obras/corpos.
Em seu texto curatorial, Ana Carolina Halston destaca o teor histórico de Leviatã em diversas passagens do Velho Testamento como um ser que surge com sua forma e potência colossal, carregando sentimentos controversos e primordiais para a humanidade. É essa mesma natureza humana um dos temas centrais do romance escrito pelo filósofo inglês Thomas Hobbes (1588-1679) que leva o nome da entidade serpentiforme que habita as águas do oceano.
“É por meio desse ato tão vital e fascinante quanto amedrontador de ser tragado que, durante centenas de anos, povos ameríndios, maoris e tantos outros de distintas etnias terrestres acreditavam na visão cosmológica de que ingerir um guerreiro ou inimigo poderoso faria com que suas virtudes fossem incorporadas. E, talvez não à toa, é nas sombras que se destacam no espaço expositivo da mostra individual de Selva de Carvalho, que nos percebemos, como que de passagem, pelas entranhas de uma misteriosa espécie que flutua e que a todos abocanha”.
Entre cada segmento suspenso do site-specific, que lembram costelas de animais ou até veios de plantas, um novo universo se abre e, dessa forma, esse ser único se desmembra, expandindo-se no espaço. A grafia escolhida pela artista para dar nome à exposição subverte a ideia de um ser absoluto, colocando-o em relação – lev (e) iatã – e em suspensão, em um processo de sublimação da matéria. O conector (e) reafirma a importância do espaço entre, lugares onde os atravessamentos se dão e a vida acontece em sua forma mais radical.
Diferentes materialidades que fazem parte do léxico da artista se encontram e entrelaçam, passando pela rigidez da madeira, material inédito no trabalho de Selva Carvalho, a malemolência dos tecidos, seu elemento por excelência. O alinhavar da trama aponta para um certo erotismo que é atávico na produção da artista, entoando a fantasia que paira no ato de cerzir corpo adentro e afora, de forma rítmica e constante. Nessa união, o embate formal de tais matérias-primas ganha corpo. Se tais obras se conectam, novas relações se criam, reforçando o pensamento de Selva de Carvalho de que nada está sozinho.