
Foto: Bene
Conhecida pela postura firme de denúncia às injustiças sociais e uma atitude combativa no palco, a rapper Sarah Guedes se envolveu com o hip hop não por raiva ou inconformidade, mas por amor. “Tudo o que me fez apaixonar pelo rap foi o amor, o sentimento de compaixão, de liberdade e leveza”, diz a artista. É a partir dessa constatação que o álbum de estreia da premiada cantora mineira, “Feita de Amor” (Xifuta Records), chega às plataformas digitais nesta sexta-feira, 13/6.
Em oito músicas, Sarah Guedes destaca uma rede de afetos que ajudaram a constituir sua trajetória. “Feita de Amor” fala sobretudo da força e do impacto das relações humanas dentro do hip hop. “Eu queria que o álbum remetesse mais sobre afetos do que sobre ânsias e conquistas individuais. É um disco feito de vivências e laços que nos unem. Sobre o recorte da minha parte mais afetuosa e sensível”, justifica Sarah.
Todas as faixas do disco foram escritas ao longo da última década, muitas delas como poemas avulsos, retrabalhados e lapidados durante as gravações, que começaram em 2023 – mesmo ano em que a artista conquistou o “Prêmio Multishow de Música Brasileira”, na categoria “Melhor Hip Hop”, com um feat icônico junto a Djonga na faixa “Penumbra”. A música do disco “Dono do Lugar”, do rapper mineiro, ultrapassa 40 milhões de audições nas plataformas de streaming.
Histórias e sonoridades
Com produção de Abu e Cizco, “Feita de Amor” foi produzido no Estúdio Xifuta Records, em Belo Horizonte, com gravação, mixagem e masterização, realizadas no Estúdio Luiz Brasil, em Contagem, na região metropolitana da capital mineira. A sonoridade do disco é doce e suave, a partir de referências ecléticas do boom bap, house, afrobeats, e love songs. Mas nada de inspirações diretas em artistas específicos.
“Muitas das músicas não tinham referência, gostei do baixo em algum som, de uma melodia em outro, fomos descobrindo coisas. O Abu me entende muito bem. Não queria que existisse o lance da referência direta, parecido com artista tal, e o Abu captou isso. Então, foi possível construir um disco original. Queria simplesmente mostrar a Sarah Guedes. E que as pessoas ouvissem e pensassem: isso é a Sarah”, atesta a artista.
Em “Eu Juro”, a cantora e violinista Nath Rodrigues divide os vocais com Sarah Guedes, mas também insere solos de violino impactantes no arranjo do afrobeats dançante. Já em “Ufa”, Juventino Dias fica livre para criar um longo solo de trompete nostálgico, que cai como uma luva para a letra que agradece boa parte das relações da artista mineira.
As letras, inclusive, revelam como a poesia de Sarah Guedes maturou ao longo dos anos, junto à sua forma de cantar, explorando os agudos e as extensões vocais. Em “Romance Astral”, ao relatar os desentendimentos entre um casal, a rapper alonga os vocais, como uma intérprete de MPB, e mostra o flow afiado: “No silêncio que diz tudo, há respostas pelo ar / Um mar de lágrimas, seco, terço na mão pra amenizar”.
Em “Chama”, feat com o parceiro de longa data Djonga, o lado mais romântico de Sarah Guedes brilha em rimas bem encaixadas com as frases do rapper e amigo: “Bora pichar a cidade toda com juras de amor eterno / coisa pra esconder dos filhos e contar para os netos”. “Neguinho da cor de bombom, eu fecho contigo um tantão / Deixa que eu vou pilotar, eu tô indo te buscar”.
Mesmo diante de tantos relatos de afeto e paixão, “Feita de Amor” também carrega os traços primários de Sarah Guedes, ou seja, sua postura firme contra as mazelas sociais. Por isso, “Tratos, fatos, fardos” parece resumir sua apaixonada relação com o rap, a partir de uma letra dura, mas ao mesmo tempo sensível: “Me sinto uma semente em um hectare de terra infértil que me fala todo dia que não vou vingar”.
“Feita de Amor” ainda conta com participações de Nerexx na produção da faixa “Canalhas”, a primeira música cantada por Sarah em cima de um palco, no início da carreira; e de Dudu Amendoeira no piano elétrico da faixa “Infinito”, além de diversos backing vocals gravados pelo produtor Luiz Brasil.
Sarah Guedes
MC e agente cultural reconhecida no cenário hip hop de Belo Horizonte, Sarah Guedes transita entre o rap, o funk e o pop. Em geral, suas rimas, músicas e criações artísticas carregam mensagens com um flow “curto e grosso”, abordando o empoderamento feminino, o amor, a denúncia à violência doméstica, o questionamento à apropriação cultural e o combate ao machismo, ao racismo e ao genocídio da população negra.
A caminhada artística de Sarah Guedes começa pela dança, ainda em 2011, quando tornou-se bailarina atuante na dança contemporânea, na dança afro, no jazz, no balé clássico e na dança moderna, com passagens pelas escolas do Corpo Cidadão (Grupo Corpo), Prelúdio Dance e Grupo Bataka. Com essa formação, trabalhou como arte-educadora em escolas públicas da capital mineira.
A partir de 2013, se dedicou de forma mais intensa às rimas e à composição. Foi a única mulher entre os finalistas da primeira edição mineira do “Slam de Poesia – Slam Clube da Luta”, em 2014, o maior evento de batalhas de poesias faladas do Brasil. No mesmo ano, se tornou MC residente na Batalha de MCs “Rima na Rua”, que levou batalhas de freestyle para o baixo centro de Belo Horizonte, no Shopping Popular UAI — dando força à proliferação de eventos no centro de BH inspirados pelo famoso Duelo de MCs.
Sarah Guedes produz o “Baile Da Bads”, uma iniciativa que, junto a espaços de incentivo e promoção da cultura periférica, traz ao centro de Belo Horizonte shows de funk sem tabus e estereótipos, reforçando a auto afirmação da cultura de quebrada. Em 2023, venceu o “Prêmio Multishow de Música Brasileira” pela participação na faixa “Penumbra”, de Djonga, que ultrapassa 40 milhões de audições nas plataformas. Em 2025, lança se primeiro e aguardado álbum, “Feito de Amor”, com oito músicas autorais.