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Apesar de proibidos no Brasil desde 2009, os dispositivos eletrônicos para fumar (DEFs), chamados popularmente de vapes, seguem atraindo adolescentes e jovens, podendo, inclusive, ser facilmente encontrados no comércio formal e informal. Em Minas Gerais, 8,8% do público entre 13 e 17 anos afirmou ser usuário desses produtos, índice maior que a média nacional (6,8%). Os dados são da última Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2019.
Para a pneumologista e professora do curso de Medicina do Centro Universitário UniBH – integrante do ecossistema Ânima – Camila Passos, é extremamente importante que as campanhas de conscientização alertem, cada vez mais, sobre esse novo inimigo da saúde, que vendido com aromas e sabores agradáveis, design sofisticado e embalagens com cores vibrantes, também causa os mesmos males dos cigarros convencionais. “Estudos recentes indicam que a quantidade de nicotina nos cigarros eletrônicos é maior que nos modelos tradicionais. Eles são, na verdade, um lobo em pele de cordeiro”.
Ainda de acordo com a especialista, por também possuírem nicotina, os DEFs podem causar dependência. Isso porque ao ser inalada, ela libera dezenas de substâncias que, em contato com o Sistema Nervoso Central, dão sensação de prazer instantâneo. “Com isso, a pessoa entra em um ciclo viciante e passa, cada vez mais, a fumar com mais constância para desfrutar desse bem-estar imediato. A dependência, por sinal, é percebida de forma muito clara quando alguém está tentando parar de fumar, já que a abstinência pode causar irritação, estresse e insônia”, explica.
Passos também reforça que a nicotina aumenta o risco cardiovascular, contribuindo para o paciente ter mais chances de sofrer um infarto, Acidente Vascular Cerebral (AVC), entre outros problemas. “A medicina vem estudando sobre os malefícios a longo prazo causados pelos cigarros eletrônicos, mas é fato que, além da nicotina os vapes têm outras substâncias severamente tóxicas e cancerígenas, que, com o passar do tempo podem causar inflamações crônicas nos pulmões e obstrução dos bronquíolos. Isso sem falar da destruição dos alvéolos pulmonares, pequenas bolsas de ar, responsáveis pelas trocas gasosas entre o ar inspirado e o sangue. Essas estruturas são fundamentais para o processo de respiração, permitindo a entrada de oxigênio e a saída de dióxido de carbono do corpo”, explica. Essa sucessão de problemas, segundo a médica, pode levar a quadros de bronquite crônica e provavelmente Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC). “Sem falar do câncer de pulmão, já que o tabagismo é o principal fator de risco para a enfermidade”, completa Camila.
O melhor caminho é parar de fumar
Independentemente de quanto tempo a pessoa fuma, parar de fumar, conforme afirma a professora do UniBH, é sempre a melhor opção. O primeiro passo, orienta a especialista, é procurar ajuda nas unidades básicas de saúde que possuem grupos para a cessação do tabagismo, nos quais os pacientes são acompanhados por profissionais que podem, inclusive, prescrever um tratamento medicamentoso, se necessário. “Felizmente, a medicina, hoje, tem vários suportes para quem quer abandonar o vício e impedir a progressão de doenças já instaladas. Com esses auxílios, o caminho fica bem mais fácil”.
A docente finaliza destacando dados otimistas do Instituto Nacional do Câncer para incentivar aqueles que desejam abandonar o cigarro: após dois a três dias sem fumar, o corpo já está livre da nicotina e de monóxido de carbono, o olfato e o paladar se reavivam e é possível sentir melhor cheiros e sabores da comida. Após 15 dias, os cílios pulmonares tendem a recuperar suas funções, o que pode aliviar a tosse e o pigarro. A partir de um ano sem cigarro, o risco de desenvolver doença coronariana cai pela metade em relação a um fumante e já em 10 anos, as chances de diagnóstico de câncer de pulmão também reduzem para 50%.
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