A gafieira mineira, origem e legado, se mistura com a história de Belo Horizonte. A capital, que completou 126 anos no último dia 12 de dezembro, acaba de ganhar o documentário “A Gafieira Mineira: Passado Presente”, que conta a origem dos bailes de gafieira, o comportamento das pessoas no início do século XX e as danças que movimentavam o baixo centro.
O lançamento do documentário, realizado em novembro, foi feito em um contexto muito especial de revitalização do baixo centro de Belo Horizonte. É perceptível o aumento de pessoas jovens escolhendo a região para morar e para se divertir. Hoje, o baixo centro reúne alguns dos mais badalados bares, botecos, restaurantes e outros.
A ressignificação do centro da cidade ainda passa por obras, como a reforma da Praça da Estação – palco de grandes shows e ponto importante para o carnaval – e a revitalização da Avenida Afonso Pena, eixo central da história da gafieira na capital mineira. Outros espaços culturais, como o Cine Theatro Brasil, o Espaço 104, que abriga atualmente o restaurante Montë, e até mesmo a Rua Sapucaí, que se tornou um mirante do centro da cidade, demonstram a retomada da região como um local de cultura pulsante. Podemos destacar ainda o festival de arte CURA (Circuito Urbano de Arte), que a cada edição embeleza as empenas do centro, dando destaques a artistas que, nem sempre, estão nos grandes circuitos de arte.
O documentário “A Gafieira Mineira: Passado Presente” reúne o resultado de um estudo aprofundado do Grupo de Pesquisa do Festival Coisa Nossa – Gafieira Mineira”, depoimentos emocionantes de mestras e mestres da gafieira, tradição e inovação, além de muita música e dança. O filme é uma celebração autêntica das conexões entre gerações, onde a paixão pela dança transcende o tempo, resgatando a essência da Gafieira Mineira e salvaguardando os agentes responsáveis pelo seu surgimento.
O que é a gafieira?
Gafieira é o lugar onde se dança ritmos ditos populares, que eram quase que um oposto aos bailes da elite. Esses dois mundos se separavam geograficamente na cidade. Considerando a Avenida Afonso Pena, um dos corredores mais importantes e conhecidos de BH, como uma referência desta segregação, os bailes elitizados eram realizados em locais acima da Rua da Bahia. Já a parte debaixo da Rua da Bahia, o baixo centro, abrigava as gafieiras.
Até o jeito de dançar confirmava essa separação. A valsa era uma dança considerada “autorizada”, ou seja, aceita pela elite. Na valsa, os corpos estão mais distantes e são mais valorizados os movimentos da cintura pra cima: braços e cabeça.
Já nas gafieiras – onde se dançava samba, mambo, rumba, bolero, tango, maxixe, forró, rock e outros – os corpos se aproximam e se tocam mais e os movimentos mais destacados são de quadril e pernas. Muitas pessoas de classe social mais alta consideravam tais danças, além de indecentes, populares, ou seja, sem o refinamento que a valsa representa, por exemplo.
Gafieira e a “gaffe”
“O nome gafieira está relacionado à palavra gaffe no seu sentido original, ou seja, comportamentos populares, não-elitizados, o que levou ao uso da palavra “gafe” para caracterizar, pejorativamente, deslizes e erros. Então, quando a gente resgata a gafieira, na verdade, a gente está lutando pela valorização de uma cultura popular importantíssima para Minas Gerais e para o Brasil, porque não se trata só de dança, mas também de identidade, cultura, símbolos, comportamentos, relacionamentos e até memórias afetivas”, explica a idealizadora do festival e do documentário, Priscilla Rangel.
O documentário “A Gafieira Mineira: Passado Presente” está disponível no link https://youtu.be/jv1X8phDGoM.
Ficha Técnica
Coordenação de produção e produção do documentário: Daniel Alpoim
Produção/Imagens/Áudio: Daniel e Alpoim
Produção: Grupo de Pesquisa
Pesquisadores: Daniel Apoim, DJ Cassiano, Priscila Rangel, Roberta Bastos, Camila Paulucci, Stephanie Cunha
Idealização – Priscilla Rangel e Projeto Coisa Nossa
Convidados
Cristiane Pizani – pesquisadora sobre a gafieira
Mestre Acácio
Mestra Inês
Mestra Fatinha
Mestra Elaine
Mestre Bibito
Mestre Alaercio
Mestre Emilio
Mestre Biroska